Tenho uma jardineira com gerânios no meu apartamento. Quando me mudei para cá, as plantas já estavam, são moradores mais antigos do que eu. Tinha ideia de colocar outras espécies, mas como detesto arrancar plantas e folhas secas, resolvi manter os gerânios.
Eram mudas velhas, com caules lenhosos, que não davam flores próximas ao solo, mas apenas no alto, deixando um visual não muito bonito.
Podei, coloquei terra, adubei, comecei a regar com mais frequência e as mudas foram crescendo, ganhando volume, folhas grandonas iam aparecendo.
Descobri depois que o gerânio brota a partir de uma única folha e aí foi uma festa, fui enchendo o canteiro e hoje ele está lindo.
Fico sentada no sofá admirando as flores, nas cores rosa e vermelho, vendo como a luz vai mudando ao longo das horas. Uma meditação….
Além das regas e adubações periódicas, é preciso arrancar as folhas que secam, pois elas vão deixando o canteiro com cara de mal cuidado.
E elas aparecem todos os dias. Diariamente passo pela jardineira e arranco as folhas secas. Às vezes fico um bom tempo fazendo isso e quando olho de novo vejo mais folhas que precisam ser removidas.
Mesmo fazendo isso acontece de, a cada mês mais ou menos, ser necessária uma limpeza mais cuidada. Passo horas removendo folhas amareladas, manchadas e as secas. Retiro as que caíram na terra, crio novas mudas, vou replantando…
Mesmo com todo esse cuidado, no dia seguinte, lá estão as folhas secas de novo.
É um trabalho infinito.
Desde que estipulei essa rotina fico refletindo como esse cuidado é uma metáfora do que é preciso ser feito comigo mesma.
Foi um dos primeiros mitos da espiritualidade que identifiquei e derrubei em mim, o de achar que qualquer prática ou conquista teria resultados permanentes. Ledo engano.
Enquanto tiro as folhas secas, reflito sobre como preciso me livrar de antigos padrões, de ideias que não servem mais, hábitos inadequados, de pensamentos venenosos, que preciso parar de cultivar sentimentos nocivos e destrutivos.
E se num dia eu reflito e retiro, no dia seguinte lá estão eles novamente na minha vida. Muitas vezes são as mesmos desafios, outras vezes são “folhas secas” de camadas mais profundas, como aquelas que retiro nos dias de revitalizar o jardim.
Percebi a correlação entre o jardim e a minha vida no dia em que me peguei pensando “que chatice ter que limpar o jardim todo dia”. No mesmo segundo que o pensamento apareceu, me dei conta que era assim mesmo, na natureza e na natureza da mente e do coração. E sempre será!