Qual a maior dificuldade enfrentada pelas pessoas que querem começar a meditar? Recentemente, em um questionário publicado em uma das minhas redes sociais, eu pedi para as pessoas se manifestarem sobre quais eram os principais desafios na meditação. As respostas citavam postura, falta de concentração, falta de tempo, dificuldade em estabelecer uma rotina e se desligar do mundo externo.
Desafios na meditação: postura
Apenas vai enfrentar dificuldade em relação à postura quem quiser imitar uma das poses clássicas da meditação que é sentar com as pernas cruzadas, pés sobre as coxas, a chamada postura de lótus. Difundida há milênios, não é comum para pessoas do hemisfério ocidental, que cresceram usando cadeiras desde pequenas. Em geral, nós, ocidentais, não temos a flexibilidade necessária nos quadris, tampouco o alongamento necessário para cruzar os pés sobre nossas pernas. Sentar dessa maneira pode ser seu objetivo, mas saiba que isso não precisa ser sua meta principal.
A postura correta para meditar é aquela que te deixa confortável. Pode ser sentada numa cadeira convencional, pode ser deitada, pode ser sentada no chão com as costas apoiadas contra a parede. Pode ser em qualquer outra postura de ioga.
O principal é dar um bom apoio as costas. Isso vai garantir que você consiga manter o foco na prática sem sentir dores.
Mas saiba também que é normal sentir algum desconforto. Isso acontece principalmente porque paramos para prestar atenção ao nosso corpo e vamos perceber como acumulamos tensão ou mantemos uma má postura. Pode ser um bom sinal para melhorar nosso condicionamento físico, fortalecendo músculos da região abdominal e das costas que darão suporte à coluna.
Segundo a filosofia da ioga, temos a idade que tem a nossa coluna vertebral. Isso significa que uma vida longa e saudável tem relação direta com a maneira como cuidados dessa preciosa estrutura do corpo.
Concentração
Meus professores lá na Índia diziam que nós, ocidentais, não sabíamos meditar. Eles se referiam à maneira como tentávamos nos encaixar em um padrão e de como fazíamos esforço para entrar num estado meditativo ou de contemplação.
Esforço é a antítese da meditação. Não é preciso colocar força, tampouco forçar uma postura, um tempo ou um estado. A prática envolve relaxamento do corpo e aquietar o ritmo frenético da mente para que possamos entrar num espaço de observação. Nada além disso. O que vem depois será uma experiência única para cada pessoa.
Durante a prática, precisamos apenas observar o que se passa com o nosso corpo e dentro de nós, numa atitude passiva. Esse processo naturalmente conduz a estados de relaxamento e de bem-estar. Esse é um caminho.
Outras pessoas preferem praticar com meditações guiadas, que ajudam a manter o foco numa história, num caminho ou numa sequência. Também é valido.
O mais importante aqui é entender que o esforço é ineficaz e não se engajar em julgamentos.
Qual é o proposito de tentar meditar e sair ainda mais estressado com acusações sobre si mesmo?
Pratique, experimente diferentes caminhos e técnicas. Você ira encontrar o jeito que combina com você.
Tempo
Apenas dedicamos tempo a algo que nos traz algum benefício, que nos dá prazer ou que seja necessário. Para inserir a meditação na sua rotina, será necessário que ela se encaixe em um ou mais motivos acima.
Se a meditação significar um desafio, trouxer desconforto físico e aumentar a sensação de estresse (já que muitas pessoas se cobram porque não conseguem se concentrar, por exemplo), com certeza ela não terá espaço na sua rotina.
Com a prática, os benefícios virão e naturalmente você sentirá necessidade de incluir no dia a dia.
Mas aqui eu tenho uma observação preciosa, que poucos falam: não existe apenas um tipo de meditação. Meditar não significa sentar de pernas cruzadas, manter os olhos fechados e não pensar em nada. Meditação é o ato de manter atenção total em alguma coisa. Essa coisa pode ser qualquer coisa, literalmente. Se você assistir a um filme ou ler um livro, com atenção total, isso também é meditação.
Eu, por exemplo, amo cozinhar. Enquanto preparo as refeições, amo me conectar com as formas, as texturas, as cores, os cheiros e depois provar a receitas. Isso é meditação. Aproveitar totalmente uma experiência.
Meditar pode ser sair para caminhar, tomar banho, estar em contato com uma pessoa querida, observar a natureza. Reflita: tenho certeza de que tem algo na sua vida que te traz sensação de plenitude, conexão e relaxamento.
Rotina
Criar uma rotina e um processo. Estudos apontam que é preciso repetir algo, uma ação ou um pensamento, por 21 dias, para que uma nova conexão seja criada no nosso cérebro. Estaria criado então o caminho para uma nova rotina. Parece simples, mas minha experiência mostra que a coisa é um pouco mais complicada.
Primeiro, é preciso ter muito claro que benefício esse novo hábito ou prática ira trazer. Se for algo forcado ou pensado apenas para se encaixar em algum padrão, com certeza não dará certo. Essa e a principal receita para criar uma nova rotina. Infelizmente tendemos a fazer isso apenas quando somos obrigados, como quando temos algum problema de saúde.
Segundo, saiba que no começo sera necessário, sim, fazer alguns ajustes. Alterar alguns horários, colocar limites em algumas atividades. Muitas pessoas querem incluir novos hábitos sem alterar nada na rotina que já mantem. Impossível.
Terceiro, estabelecer metas realistas é a melhor maneira de garantir o sucesso desse novo habito. Se você não tiver uma hora, comece com 5 minutos. Uma das minhas práticas de meditação favoritas pode ser feita em 3 minutos.
Ainda é possível pedir ajuda externa. Aqui pode ser um amigo que se proponha a meditar com você em dias e horários estabelecidos. Pode ser muito útil e divertido. Além disso, hoje existem aplicativos que ajudam a organizar as tarefas diárias e que podem enviar um aviso ou lembrete sobre sua prática.
Desafios na meditação: desligar do mundo externo
Esse tópico é muito interessante. É verdade que a prática permite que você entre num estado de conexão com tudo o que há que até as barreiras do mundo físico podem parecer desaparecer. Essa pode, sim, ser um tipo de experiência obtido com a meditação. Mas não existem resultados padronizados ou experiências que vão ser comuns a todas as pessoas.
Portanto, a primeira recomendação é a de não iniciar a prática de meditação esperando um resultado específico. É a experiência que vale. Trata-se de um exercício de atenção e isso inclui o mundo externo também. Enquanto meditamos, continuamos ouvindo os sons, sentindo os cheiros, sentindo a temperatura do ar. Tudo isso faz parte da experiência. Estranhamente, muitas pessoas acreditam que sabem meditar porque ainda estão recebendo informações dos principais sentidos. Eu sempre respondo: que bom, significa que você ainda está vivo!
A grande mudança aqui é que os fatores externos não funcionarão mais como gatilhos para sentimentos de raiva, frustração, tampouco darão inicio a novos diálogos mentais.
Enquanto vamos ampliando nossa capacidade de observação, aumentamos o poder de ver o que acontece internamente, sem deixar de perceber o mundo externo.